O Coro não é uma obra para agradar ao público em geral, pois foge dos padrões “digeríveis” do
cinema comercial. No filme, acompanhamos desde a seleção dos participantes do coro até os ensaios. Mas essa é a história “aparente”, pode-se dizer. Algo mais ou menos como seguir o tomate em Ilha das Flores. O que realmente está sendo exposto são os conflitos e a vida solitária de quatro desses componentes.
A solidão árida de suas vidas fica explícita em corredores vazios, angulações de câmera, na ausência de diálogos, compreendendo “diálogo” como um contato verdadeiro.
As tentativas de comunicação, em sua maior parte, não se realizam. Há monólogos, chamadas telefônicas que não se concretizam, silêncios discordantes. Nas poucas exceções, há o momento em que a mulher madura se dirige à jovem para perguntar a respeito de sua “entrada” no coro e tem uma
pronta resposta ou, a exceção mais expressiva, quando o maestro retira a primeira do coro, pois ela, embriagada, impedia o início do ensaio. Ele demonstra compaixão, aparenta não só ouvi-la como compreender sua dor, permitindo o desabafo. Aliás, o contraste entre esses dois personagens é muito forte: o maestro é contido, sutil. Até a sua dor é silenciosa. Já a personagem feminina se mantém em um tom dramático exagerado.
A arte, o canto do coro, não redime suas vidas, é apenas o momento de contato maior entre os componentes. A única comunicação mais bem sucedida, pode-se dizer. Essa apresentação musical também não vai, consequentemente, aliviar o nosso incômodo com o silêncio e a solidão dos personagens. O “coro”, no caso, não é de vozes, mas de vidas na angústia das cidades, em que impera mais e mais o individualismo característico do “way of life” capitalista.
Concordo com você, Valéria. Inclusive achei a proposta do filme muito interessante. Mas achei que houve uma excessiva busca do diretor por detalhes às vezes desnecessários e, em alguns momentos, um exagero na interpretação. Isso prejudicou aquela sensação boa de identificação, que faz a gente viajar na história.
Lucílio,
Obrigada pela visita ao blog e pelo comentário! Só tome cuidado com a ideia de que um filme, para ser bom, precisa trazer a sensação de identificação do público com os personagens. Tudo depende da proposta dele. Viajando, você não te tempo para conhecer o que existe de interessante ao lado da estrada… tudo passa muito rápido 😉
Eu gostei, acho que o diretor alcançou sua intenção, principalmente porque me senti mal em algumas cenas, sentindo a solidão do outro que está ao meu lado, tantas e tantas vezes. Creio que esse desisnteresse despertado em muitos de nós, seja também intecional no filme, pois é justo o que acontece na realidade. Essa solidão próxima incomoda e não quer ser descoberta porque gera um mal estar que muitos não querem encarar.
Sheyla, que bom ter seu comentário aqui 🙂 Pelo que vejo, você está descobrindo novas propostas nas obras cinematográficas e refletindo sobre elas, Abraço!